A fila para perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) voltou a crescer de forma alarmante em 2025. Em maio, o número de pessoas que aguardam uma avaliação médica oficial ultrapassou a marca dos 921 mil segurados, segundo dados atualizados da própria autarquia. Este é o maior volume registrado em quase dois anos, superando inclusive os momentos mais críticos da pandemia. A situação reacende debates sobre o funcionamento da máquina pública e o impacto direto na vida de milhões de brasileiros que dependem desses laudos para obter ou manter benefícios previdenciários.
Um problema que atinge milhares de brasileiros
O aumento da fila tem efeito direto na concessão de benefícios por incapacidade temporária e permanente. Os segurados que precisam comprovar incapacidade laboral ficam à mercê da agenda do INSS para realizar a perícia. Sem o exame, não é possível concluir o processo administrativo e liberar pagamentos.
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A espera que custa caro
Muitos cidadãos dependem desses recursos para sobreviver. São pessoas afastadas do trabalho, sem renda, e que enfrentam dificuldades para arcar com tratamentos médicos, medicamentos e despesas básicas. A morosidade, portanto, não é apenas burocrática, mas socialmente cruel.
Causas do aumento da fila
Um dos principais fatores para a alta na fila é a insuficiência de médicos peritos. Mesmo com concursos e contratações temporárias em anos anteriores, o quadro atual está longe de atender à demanda nacional. O número de profissionais ativos não acompanha o crescimento dos pedidos.
Aumento da demanda pós-pandemia
Com a reabertura total dos postos do INSS e o retorno da população às unidades, muitos segurados que adiaram seus pedidos durante a pandemia agora procuram o serviço. Essa “represada” de solicitações contribui significativamente para o acúmulo atual.
Estrutura precária e logística falha
A estrutura física de muitas agências do INSS também não colabora. Falta de equipamentos, sistemas instáveis e logística ineficiente atrasam ainda mais os agendamentos. Em cidades menores, a falta de unidades obrigam os segurados a viajarem longas distâncias.
Regiões mais afetadas
Segundo levantamento interno do INSS, as regiões Norte e Nordeste apresentam os maiores tempos de espera. Isso se deve, entre outros motivos, à menor presença de peritos e à distância entre municípios atendidos.
Capitais também sofrem
Apesar de contarem com maior infraestrutura, grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife também enfrentam filas longas. A quantidade elevada de pedidos em áreas metropolitanas congestiona o sistema.
O que diz o governo
O Ministério da Previdência reconheceu o problema e afirmou que está trabalhando em soluções para reduzir a fila. Entre as ações prometidas estão a contratação de novos peritos, ampliação do número de atendimentos diários e mutirões de perícia nos finais de semana.
Promessa de digitalização
Outra aposta do governo é a digitalização do processo, incluindo a possibilidade de perícia documental em casos específicos. A ideia é agilizar laudos por meio da análise de documentos médicos, sem a necessidade de consulta presencial.
A experiência dos segurados
Maria Aparecida, 48 anos, de Salvador, conta que espera desde janeiro por uma perícia. A diarista sofreu um acidente doméstico e foi afastada do trabalho. “Não tenho como trabalhar, mas também não recebo nada. Já vendi até meus móveis para pagar o aluguel”, lamenta.
Ansiedade e angústia
Além dos prejuízos financeiros, o atraso gera sofrimento psicológico. Muitos relatam ansiedade, depressão e sentimento de abandono por parte do Estado. “Me sinto humilhado toda vez que vou ao INSS e ouço que não tem vaga”, diz o aposentado por invalidez João Ricardo, de Belo Horizonte.
Especialistas analisam
Para o sociólogo e pesquisador de políticas públicas Paulo Mota, o problema é crônico e exige mudanças estruturais. “Temos uma máquina pública lenta, ineficaz, que não dialoga com a realidade do cidadão comum. A fila da perícia médica é um reflexo disso”, afirma.
Falta de planejamento e prioridade
A especialista em direito previdenciário Camila Leal ressalta que a ausência de planejamento estratégico agrava a situação. “Há anos sabemos da demanda crescente, mas as respostas são sempre emergenciais, nunca estruturais.”
Caminhos possíveis para reduzir a fila

A realização de concursos para médicos peritos em número suficiente seria uma solução de médio prazo para recompor o quadro funcional. Especialistas defendem a criação de um plano nacional de recomposição de pessoal.
Uso inteligente da tecnologia
Investir em inteligência artificial e automatização de etapas do processo pode acelerar a análise de documentos, liberação de perícias simples e priorização de casos graves.
Parcerias com redes de saúde
Outra alternativa seria firmar convênios com hospitais universitários e instituições públicas de saúde para realizar perícias médicas em conjunto com o INSS, ampliando a capacidade de atendimento.
O futuro da perícia médica
Embora ainda enfrente resistência entre os profissionais, a digitalização da perícia médica deve ser um caminho inevitável. Com protocolos bem definidos e segurança de dados, o processo pode se tornar mais ágil e eficaz.
Inclusão de novos modelos de atendimento
Modelos híbridos, com parte das etapas sendo presenciais e outras remotas, estão sendo testados e podem representar um avanço na prestação de serviços públicos.
O papel da sociedade e do Congresso
A sociedade civil tem papel fundamental na cobrança por melhorias. Manifestações, ações judiciais coletivas e mobilizações nas redes sociais ajudam a manter o tema em pauta e pressionar autoridades.
Projetos de lei tramitando
No Congresso Nacional, há pelo menos três projetos que tratam da modernização do processo pericial. Entre eles, a proposta que permite perícia documental com pareceres médicos privados em caráter emergencial.
Conclusão
A fila para perícia médica do INSS é um retrato da lentidão da máquina pública diante de uma população vulnerável e carente de amparo. A marca de 921 mil pessoas aguardando avaliação em 2025 é um alerta claro de que mudanças profundas são necessárias. É preciso ir além de promessas: o sistema requer investimentos, gestão eficiente e respeito ao cidadão. Sem essas transformações, o ciclo de atrasos, sofrimento e descaso continuará se repetindo — sempre à custa de quem mais precisa.





