Bocejar no meio de uma reunião ou sentir aquele cansaço inexplicável à tarde pode parecer algo banal — talvez só um sinal de uma noite mal dormida. No entanto, especialistas alertam que esse comportamento pode esconder um problema muito mais sério: o déficit de sono crônico. Um novo posicionamento da Academia Americana de Medicina do Sono (AASM) reforça que a sonolência excessiva deve ser tratada com atenção, pois está ligada a riscos relevantes para a saúde pública.
Segundo Eric Olson, presidente da AASM e pneumologista da Clínica Mayo, “a sonolência é uma preocupação séria de saúde com consequências de longo alcance”. O alerta é reforçado por 25 entidades médicas que apoiam o novo documento da AASM, entre elas a Academia Americana de Neurologia e o Conselho Nacional de Segurança.
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Quando o corpo pede socorro em forma de bocejo
O ato de bocejar com frequência, principalmente durante o dia, pode ser um mecanismo do corpo para tentar compensar a falta de descanso. Mas não se trata apenas de sono perdido — a privação crônica afeta diretamente o funcionamento do cérebro, podendo gerar problemas cognitivos e até colocar vidas em risco.
Kristen Knutson, especialista em sono e professora de medicina preventiva na Universidade Northwestern, afirma: “Cochilar em reuniões entediantes é uma indicação de sono insuficiente. Alguém que está completamente descansado não vai adormecer em reuniões, não importa o quão entediante seja a reunião”.
Impactos silenciosos: do cansaço aos acidentes
A sonolência diurna afeta milhões de adultos e, muitas vezes, é subestimada. Estima-se que um terço dos adultos nos EUA relatam sentir sonolência excessiva. E os perigos não estão restritos ao bem-estar individual. De acordo com Olson, esse quadro aumenta as chances de acidentes de trânsito, erros no ambiente de trabalho e pode gerar sérias complicações de saúde a longo prazo, como doenças cardíacas, AVCs, depressão, obesidade e diabetes.
“Se alguém está experimentando sonolência excessiva durante o dia regularmente, deve discutir isso com seu médico”, reforça Knutson.
Sinais ignorados e a falsa sensação de estar bem
Indira Gurubhagavatula, professora no Centro Médico da Administração de Veteranos da Penn Medicine, alerta para um aspecto preocupante: o cérebro, sob privação constante de sono, perde a capacidade de reconhecer que está com problemas. “Pensamos que estamos bem quando realmente não estamos”, afirma.
Testes de desempenho cognitivo revelam falhas sérias de atenção, memória e coordenação em indivíduos que acreditam estar descansados. A situação se agrava com os chamados microssonos, episódios de poucos segundos em que o cérebro literalmente “desliga”. “Pode ser muito perigoso se você estiver dirigindo ou fazendo algo que envolva segurança”, alerta Gurubhagavatula.
Como medir a gravidade da sonolência?
A Escala de Sonolência de Epworth é uma das ferramentas utilizadas para avaliar a propensão ao sono durante atividades rotineiras, como assistir TV, ler ou estar em reuniões. Os pacientes atribuem notas de 0 a 3 para situações específicas, e pontuações acima de 10 são consideradas preocupantes.
“Pedimos aos pacientes que classifiquem de zero a três o quão provável é que adormeçam durante essas oito situações sedentárias”, explica Gurubhagavatula. “A pontuação máxima é 24, o que indica que você está muito, muito sonolento.”
Distúrbios e maus hábitos que afetam o sono
Diversos fatores podem estar por trás da sonolência constante. Entre os principais estão distúrbios como apneia obstrutiva do sono, insônia, síndrome das pernas inquietas e alterações do ritmo circadiano. Condições como dor crônica e até mesmo medicamentos, tanto prescritos quanto de venda livre, também podem influenciar.
Além disso, comportamentos inadequados de vida comprometem ainda mais a qualidade do descanso. “Coisas como cafeína em excesso, uso de álcool antes de dormir, uso de maconha, a quantidade de exercício que você está fazendo e práticas inadequadas de higiene do sono, como dormir em um quarto claro, frio, quente ou barulhento, definitivamente afetarão como seu sono será organizado e o quão restaurador será”, explica Gurubhagavatula.
O sono e as substâncias que parecem ajudar, mas atrapalham
Muitas pessoas recorrem ao álcool ou à maconha acreditando que ajudam a relaxar e dormir melhor. No entanto, o efeito é oposto. O álcool pode até induzir o sono mais rápido, mas o organismo tende a despertar durante a noite quando a substância é metabolizada.
“Tenho pacientes que ficam muito surpresos com o quanto o sono melhora quando eles eliminam aquela taça de bebida que tomam com o jantar”, comenta Gurubhagavatula.
Quando procurar ajuda médica?
Sentir-se cansado ocasionalmente é normal, especialmente após uma noite mal dormida. No entanto, se a sonolência for constante e afetar suas atividades diárias, é hora de buscar ajuda profissional.
Os especialistas do sono podem identificar causas específicas e oferecer tratamentos eficazes, que vão desde mudanças no estilo de vida até terapias específicas para distúrbios identificados.
Com informações de: CNN Brasil