Com a chegada de uma nova linha de crédito no mercado, trabalhadores com carteira assinada (CLT) agora contam com a possibilidade de contratar empréstimos consignados usando o FGTS como garantia. Batizado de Crédito do Trabalhador, esse modelo de financiamento tem atraído atenção por prometer juros mais baixos. Mas será que vale a pena? Antes de entrar de cabeça nessa modalidade, é essencial conhecer seus benefícios e riscos.
O que é o Crédito do Trabalhador?
O Crédito do Trabalhador é uma modalidade de empréstimo consignado criada especialmente para quem atua com registro formal no setor privado. A grande novidade é que essa linha permite que o trabalhador use parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia do pagamento. Isso significa que, se a dívida não for quitada, a instituição financeira poderá abater o valor diretamente do fundo.
Além disso, as parcelas do empréstimo são descontadas automaticamente da folha de pagamento do trabalhador, o que minimiza a chance de inadimplência. Mas essa comodidade vem com algumas regras importantes.
Como funciona esse tipo de crédito?
Descontos diretos no salário
A dinâmica do Crédito do Trabalhador é simples: até 35% do salário mensal pode ser comprometido com o pagamento das parcelas. Ou seja, se o trabalhador ganha R$ 2.000, poderá usar até R$ 700 por mês para quitar o empréstimo. Esse desconto é feito diretamente pelo sistema do eSocial, o que reduz riscos para os bancos e, em teoria, permite juros menores.
Garantia com o FGTS
Uma parte relevante dessa operação está na garantia oferecida. O trabalhador pode utilizar até 10% do saldo disponível no FGTS, além de 100% da multa rescisória (em caso de demissão sem justa causa) como segurança para a operação. Na prática, isso funciona como um seguro para a instituição financeira.
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Vantagens do Crédito do Trabalhador para CLT
Juros mais baixos
Um dos maiores atrativos desse modelo de crédito é a redução nas taxas de juros. Como o risco de inadimplência é menor (graças ao desconto em folha e à garantia do FGTS), os bancos conseguem oferecer taxas mais acessíveis quando comparadas a outros tipos de empréstimo pessoal.
Facilidade de pagamento
O desconto automático no salário elimina a necessidade de lembrar datas de vencimento. Isso também reduz a chance de esquecer uma parcela, evitando multas e juros por atraso.
Acessível a quem tem carteira assinada
Enquanto muitos produtos financeiros exigem bom histórico de crédito, o Crédito do Trabalhador é voltado a todos que possuem vínculo empregatício formal, independentemente do score de crédito.
Pontos de atenção: o que analisar antes de contratar
Comprometimento da renda
Dedicar até 35% do salário ao pagamento de um empréstimo pode pesar no orçamento. Essa fatia pode fazer falta em momentos de emergência ou em despesas imprevistas, como uma manutenção no carro ou gastos com saúde.
Risco de perder a reserva do FGTS
Usar o FGTS como garantia pode parecer vantajoso, mas é necessário cautela. Esse fundo é, para muitos, a única reserva para momentos delicados, como desemprego ou aposentadoria. Comprometer esse dinheiro pode representar riscos futuros.
Transparência nas condições do contrato
É essencial verificar todas as cláusulas antes de fechar negócio. O trabalhador deve estar atento à taxa de juros total (CET), ao número de parcelas, ao valor final pago e a possíveis cobranças extras. Nenhuma instituição está autorizada a cobrar tarifas adicionais ou impor período de carência para início dos pagamentos.
Cuidados na contratação: como evitar armadilhas
Contrate apenas por canais oficiais
Para garantir segurança, o empréstimo deve ser contratado exclusivamente pelos canais autorizados, como sites e aplicativos oficiais dos bancos. A proposta também deve ser enviada através do aplicativo Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital), disponível para Android e iOS.
Evite propostas por telefone ou intermediários não autorizados. Infelizmente, golpes envolvendo empréstimos consignados têm se tornado comuns, principalmente com pessoas mais vulneráveis.
Planejamento é essencial
Segundo especialistas em finanças e defesa do consumidor, a decisão de contratar um crédito precisa estar atrelada a um bom planejamento financeiro. Usar esse dinheiro de forma impulsiva, sem uma estratégia clara, pode resultar em um ciclo de endividamento difícil de quebrar.
Se a ideia for quitar outra dívida, é importante garantir que as novas condições realmente trarão alívio financeiro e não mais complicações.
Possíveis usos do Crédito do Trabalhador
Quitação de dívidas com juros maiores
Utilizar o consignado para trocar dívidas caras, como as do cartão de crédito ou cheque especial, pode ser uma boa jogada — desde que a nova dívida seja bem estruturada e caiba no orçamento.
Investimento em bens duráveis
Se for para comprar algo essencial e duradouro, como um computador para trabalho ou eletrodomésticos, o crédito pode ser útil. O ideal é evitar gastos supérfluos.
Cobertura de emergências reais
Situações como despesas médicas, reformas urgentes ou consertos inadiáveis podem justificar o uso desse recurso.
Quando evitar o empréstimo consignado
Apesar das vantagens, o Crédito do Trabalhador não é para todos os momentos. Se você está apenas buscando crédito para consumo impulsivo, ou se já está com o orçamento muito apertado, o ideal é não comprometer ainda mais sua renda.
Além disso, usar o FGTS como garantia em uma situação em que o risco de demissão é alto pode ser arriscado. Ao ser desligado, o trabalhador pode ver o valor da multa rescisória ser usado diretamente para cobrir o saldo devedor.
Alternativas ao consignado para CLT
Se, após a análise, o empréstimo consignado não se mostrar a melhor opção, é possível considerar outros caminhos:
- Negociação direta com credores para parcelamento de dívidas;
- Empréstimos pessoais tradicionais, mesmo com juros mais altos, mas sem comprometer o FGTS;
- Linhas de crédito específicas para microempreendedores, educação ou reforma, que podem ter condições diferenciadas.
Conclusão: vale a pena contratar o Crédito do Trabalhador?
O empréstimo consignado para CLT, ou Crédito do Trabalhador, pode sim ser uma boa solução para quem busca crédito com juros baixos e tem uma necessidade concreta. No entanto, é uma escolha que exige reflexão e análise criteriosa.
Antes de assinar qualquer contrato, o trabalhador deve avaliar sua situação financeira, calcular o impacto da parcela no orçamento e considerar os riscos de usar o FGTS como garantia. Com planejamento e consciência, essa linha de crédito pode ser útil. Mas sem esse cuidado, o risco de entrar em uma bola de neve de dívidas é real.
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