No dia 27 de março de 2025, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) publicou uma nova portaria no Diário Oficial da União. O documento trouxe mudanças significativas para o ingresso de famílias unipessoais — aquelas compostas por um único indivíduo — nos programas sociais Bolsa Família e Auxílio Gás.
A principal exigência passa a ser a atualização cadastral por meio de entrevista domiciliar, com o objetivo de tornar o processo mais seguro, transparente e eficiente. A medida reflete uma estratégia mais ampla do governo federal para aperfeiçoar o Cadastro Único (CadÚnico) e combater fraudes na distribuição dos benefícios.
Leia Mais:
Confirmado! Pagamento do Auxílio Gás para 5,37 milhões de famílias começa nesta terça (15)
O Que São Famílias Unipessoais?
Definição
Famílias unipessoais são aquelas compostas por apenas uma pessoa. Esse modelo de núcleo familiar é cada vez mais comum no Brasil, especialmente em áreas urbanas, e inclui idosos, jovens que moram sozinhos, pessoas divorciadas e trabalhadores migrantes.
As Novas Regras de Cadastro
A exigência de entrevista domiciliar
A partir da publicação da portaria, todas as famílias unipessoais que desejarem se inscrever ou atualizar seu cadastro no Bolsa Família ou no Programa Auxílio Gás devem passar obrigatoriamente por uma entrevista domiciliar.
Objetivo da medida:
- Verificar a veracidade das informações declaradas;
- Garantir que os recursos sejam destinados corretamente;
- Evitar fraudes e cadastros fictícios.
Como funciona a entrevista domiciliar
A entrevista é realizada por um técnico do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) que visita o domicílio do beneficiário para confirmar os dados fornecidos no CadÚnico. São verificadas:
- Condições habitacionais;
- Existência de outros moradores no mesmo endereço;
- Situação socioeconômica do indivíduo.
Exceções à Regra: Grupos que não precisarão da entrevista
Nem todas as famílias unipessoais estarão obrigadas a cumprir a nova exigência. A portaria traz uma série de exceções, especialmente voltadas a grupos vulneráveis:
Grupos isentos da entrevista domiciliar:
1. Famílias com trabalho infantil
Famílias que tenham registro ou denúncia de trabalho infantil terão prioridade no atendimento e não precisarão da visita domiciliar para ingresso nos programas.
2. Vítimas de trabalho análogo à escravidão
Indivíduos resgatados dessas condições terão acesso facilitado aos benefícios sociais, sem a burocracia adicional da entrevista.
3. Comunidades quilombolas e indígenas
Esses grupos terão processo de cadastramento diferenciado e adaptado às suas realidades, com dispensa da entrevista presencial.
4. Catadores de materiais recicláveis
Devido à vulnerabilidade social e dificuldade de localização fixa, esse grupo também está isento.
5. Pessoas em situação de rua
Para evitar a exclusão desse público, não será exigida a visita domiciliar, sendo possível o cadastro por meio de centros de acolhimento ou instituições parceiras.
Impactos da Nova Portaria
Para as famílias unipessoais
A exigência de entrevista domiciliar pode representar um desafio para famílias que:
- Possuem dificuldades de locomoção;
- Vivem em áreas de difícil acesso;
- Têm restrições de horário para receber a visita do técnico.
Para o sistema de assistência social
A medida aumenta a responsabilidade dos municípios e dos CRAS, que precisarão:
- Ampliar equipes para atender à demanda;
- Organizar calendários de visitas;
- Garantir o sigilo e o respeito durante as entrevistas.
Eficiência e Combate à Fraude
Por que o governo adotou essa medida?
A estratégia visa:
- Evitar fraudes no CadÚnico;
- Reduzir o número de cadastros falsos;
- Garantir a aplicação correta dos recursos públicos.
Segundo o MDS, havia indícios de crescimento artificial no número de famílias unipessoais cadastradas, o que motivou a revisão das regras.
Controle de dados e transparência
A entrevista permite maior fiscalização das informações, promovendo justiça social e o uso adequado dos recursos.
A Importância da Atualização Cadastral
O papel do Cadastro Único
O CadÚnico é a principal base de dados do governo federal para identificar famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Está vinculado a diversos programas, como:
- Bolsa Família;
- Auxílio Gás;
- Tarifa Social de Energia Elétrica;
- Minha Casa, Minha Vida;
- Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Atualizações periódicas são obrigatórias
- A cada dois anos;
- Ou sempre que houver mudanças na composição familiar, renda, endereço ou escola dos filhos.
Reações à Nova Medida
Avaliação de especialistas
Especialistas em políticas públicas destacam que a medida pode ser positiva para o controle dos programas, mas alertam para os riscos de exclusão:
“É necessário garantir que a exigência da entrevista não vire uma barreira de acesso, especialmente para os mais pobres e invisíveis aos olhos do Estado” — afirma a socióloga Mariana Rodrigues, da UFRJ.
Reação da sociedade civil
Entidades que trabalham com população de rua e comunidades tradicionais demonstraram apoio às exceções previstas na portaria, mas pedem mais investimento nos CRAS para viabilizar a operacionalização das visitas.
Como se Regularizar
Passo a passo para famílias unipessoais
- Procurar o CRAS mais próximo;
- Solicitar atualização cadastral ou inscrição no CadÚnico;
- Agendar a entrevista domiciliar com um técnico;
- Receber a visita e apresentar os documentos exigidos;
- Aguardar a validação do cadastro e análise do MDS.
Documentos necessários
- CPF e RG;
- Comprovante de residência (quando possível);
- Declaração de renda (se houver);
- Outros documentos solicitados pela equipe do CRAS.
Considerações Finais
A nova portaria representa uma mudança importante na forma como o governo identifica e atende famílias unipessoais em situação de vulnerabilidade. Ao exigir entrevista domiciliar, o objetivo é fortalecer o sistema de assistência social, promover justiça na distribuição dos benefícios e combater fraudes.
Por outro lado, a medida impõe desafios para beneficiários e municípios, que precisarão se adaptar rapidamente ao novo processo. As exceções previstas garantem proteção aos grupos mais vulneráveis, sinalizando um esforço de equilíbrio entre controle e inclusão.
A regularização do cadastro será essencial para manter ou conquistar o direito ao Bolsa Família e ao Auxílio Gás em 2025. A atuação conjunta do governo, municípios e sociedade civil será crucial para o sucesso dessa nova política.