O envelhecimento da população brasileira tem colocado em evidência a urgência de adaptar e expandir a infraestrutura de cuidados voltada à terceira idade. Com base em projeções recentes, o segmento que engloba serviços essenciais para idosos deve registrar um crescimento médio de 7,5% ao ano até 2030. O dado, apresentado pela Redirection International, coloca o Brasil acima da média global de 6,8% prevista para o mesmo período pela Data Bridge Market Research, sinalizando um cenário promissor para investidores, profissionais da saúde e famílias.
Essa expansão, no entanto, envolve mais do que números: ela reflete transformações sociais profundas, como o aumento da longevidade, a mudança no perfil das famílias e o surgimento de novas demandas por atendimento personalizado, acessível e de qualidade.
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Envelhecimento acelerado exige respostas rápidas
O Brasil passou por uma mudança demográfica significativa na última década. Segundo o Censo 2022 do IBGE, o número de brasileiros com 65 anos ou mais saltou de 14,1 milhões em 2010 para 22,2 milhões em 2022 — um aumento de 57%. Esse crescimento, além de pressionar o sistema de saúde, tem ampliado a procura por serviços especializados em cuidados de longa duração, desde residenciais assistidos até atendimento domiciliar.
“Essa mudança demográfica leva ao aumento da demanda por serviços de apoio e cuidados especializados, incluindo instalações de vida assistida, lares para idosos e serviços de cuidados residenciais”, afirma Vinicius Oliveira, economista e sócio da Redirection International, um dos responsáveis pela análise de mercado.
Mudança cultural e novas exigências da população idosa
Além da maior expectativa de vida, outros fatores vêm contribuindo para o avanço do setor, como a urbanização, o aumento da renda familiar e transformações na estrutura familiar. Cada vez mais, idosos vivem sozinhos ou sem o suporte de familiares próximos, o que reforça a necessidade de serviços profissionais.
Segundo Oliveira, essas transformações culturais abrem espaço para modelos inovadores de atendimento. “Essas tendências sociais impulsionam a procura por atendimento especializado, aumentando a demanda principalmente por Instituições de Longa Permanência de Idosos – ILPIs”, ressalta.
ILPIs: expansão ainda insuficiente diante da demanda
Atualmente, o Brasil possui cerca de 7 mil ILPIs, de acordo com a Frente Nacional de Fortalecimento às ILPIs. Embora esse número represente o dobro da quantidade existente em 2010, ainda é pequeno frente à demanda crescente. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima que a procura por esse tipo de instituição triplicará nos próximos 30 anos em toda a América Latina.
Além da quantidade limitada, há uma distribuição geográfica desigual: cerca de 75% dessas instituições estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste. Outro ponto relevante é que aproximadamente 90% das ILPIs são privadas, conforme dados da Fiocruz, o que limita o acesso a famílias de baixa renda.
Cuidados aos idosos: Mercado promissor atrai investidores e fusões
O potencial de crescimento do setor tem chamado atenção de investidores nacionais e internacionais. As projeções indicam que a área de cuidados de longo prazo pode se tornar uma das mais relevantes dentro do mercado de saúde privado no Brasil, atualmente responsável por cerca de dois terços da cobertura assistencial.
Para Oliveira, essa realidade abre espaço para fusões e aquisições. Segundo ele, o setor ainda é embrionário, mas deve passar por uma fase de consolidação, com a formação de grandes grupos e a atuação em escala regional e nacional.
Entre os exemplos mais significativos de movimentações no setor, está o investimento feito pelo Grupo SMZTO na Rede Terça da Serra em 2022. Trata-se da maior rede de franquias de residenciais para idosos do país. No ano seguinte, em 2023, a gigante americana Halifax adquiriu a divisão Worldwide Home Care da Sodexo, que inclui operações no Brasil.
Fragmentação atual favorece consolidação futura
Hoje, o mercado de senior living no Brasil é bastante fragmentado, com a maioria dos prestadores de serviço operando em pequena escala. No entanto, essa pulverização tende a diminuir com a chegada de novos players e a ampliação da rede de atendimento.
“Assim, a atividade de M&A neste setor ainda é incipiente, mas a expectativa é que depois de uma onda de consolidação no mercado geral de saúde, o foco migre para segmentos relacionados. Por isso, enxergamos uma perspectiva para a formação de grandes grupos buscando atuação regional e nacional nos cuidados aos idosos, acompanhando uma tendência que já ocorre em países desenvolvidos”, afirma Oliveira.
Países desenvolvidos já vivenciam esse movimento, com grandes grupos atuando em diversos níveis de atendimento. A expectativa é que o Brasil siga a mesma trajetória, adaptando-se às demandas e desafios locais.
Desafios e oportunidades
Apesar do otimismo, o setor ainda enfrenta obstáculos. Entre eles, estão a regulamentação insuficiente, a carência de mão de obra qualificada e os altos custos operacionais. Superar essas barreiras será essencial para garantir que o crescimento seja sustentável e, sobretudo, beneficie a população idosa de forma equitativa.
Por outro lado, o cenário abre oportunidades para parcerias público-privadas, investimento em capacitação profissional e desenvolvimento de tecnologias assistivas. Dispositivos eletrônicos de monitoramento remoto, por exemplo, vêm ganhando espaço e podem se tornar aliados importantes na gestão da saúde dos idosos.
Um novo olhar para o envelhecimento
O avanço do setor de cuidados com idosos no Brasil não é apenas uma tendência econômica: é um reflexo da necessidade de se construir uma sociedade mais justa, que respeite o envelhecimento e promova a dignidade em todas as fases da vida.
Diante de um futuro com mais idosos do que nunca, torna-se urgente investir em infraestrutura, políticas públicas e inovação. O mercado, por sua vez, já dá sinais de que está atento e preparado para responder a essa demanda crescente e essencial.
Com informações de: Medicina S/A