A busca pela felicidade acompanha as pessoas ao longo da vida, mas um estudo recente sugere que a satisfação pessoal pode atingir seu auge na terceira idade. Segundo a pesquisa Ipsos Happiness Index 2025, realizada em 30 países com cerca de 24 mil entrevistados, a felicidade tende a aumentar significativamente a partir dos 60 anos.
Mas o que faz com que idosos relatem maior bem-estar do que os mais jovens? Especialistas apontam fatores como menor pressão econômica, relações familiares sólidas e um novo senso de propósito na vida. Neste artigo, exploramos os principais motivos que tornam a velhice um período de maior contentamento.
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O ciclo da felicidade: da juventude à terceira idade

Estudos sobre felicidade costumam indicar um padrão em formato de curva em U. Isso significa que, na juventude, as pessoas tendem a ser mais felizes, mas essa sensação diminui ao longo da vida adulta, atingindo o ponto mais baixo na meia-idade. A partir dos 60 anos, no entanto, a felicidade volta a crescer.
Esse fenômeno pode estar relacionado às mudanças de prioridades e expectativas ao longo da vida. Durante a fase adulta, preocupações como crescimento profissional, estabilidade financeira e criação dos filhos ocupam grande parte da atenção. Já na velhice, há maior liberdade para se dedicar a atividades prazerosas e relações interpessoais, o que contribui para o aumento do bem-estar.
Por que os idosos se sentem mais felizes?
A pesquisa aponta que os principais fatores que elevam a felicidade após os 60 anos são:
1. Menor pressão econômica
O mercado de trabalho exerce forte influência no bem-estar dos adultos, especialmente entre os 30 e 50 anos. A preocupação com estabilidade profissional, acúmulo de bens e insegurança financeira gera estresse e ansiedade.
Com o passar do tempo, essa pressão tende a diminuir. Embora nem todos os idosos estejam financeiramente confortáveis, muitos já não precisam lidar com as mesmas exigências do mundo do trabalho. Isso permite que outros aspectos da vida, como lazer e conexões sociais, tenham mais espaço.
O economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre), explica que a centralidade do emprego na vida adulta pode obscurecer outros fatores de felicidade:
“Quando você entra na terceira idade e está no fim da fase laboral, o trabalho passa a não ter uma centralidade tão grande na vida.”
2. Relacionamentos mais sólidos
A pesquisa mostra que os idosos frequentemente citam o relacionamento com a família e o sentimento de pertencimento como fontes de felicidade. Diferente dos jovens, que estão em fase de busca por identidade e reconhecimento social, os mais velhos já consolidaram seus vínculos.
Além disso, o Brasil tem registrado um aumento dos chamados “casamentos grisalhos”, que são uniões na terceira idade. Isso reforça a ideia de que o afeto e a convivência harmoniosa são cruciais para o bem-estar nessa fase da vida.
3. Mais tempo para atividades prazerosas
Após os 60 anos, muitas pessoas descobrem novos interesses e passam a dedicar mais tempo a atividades que realmente lhes dão prazer. O foco se desloca do trabalho e das obrigações para experiências como viagens, hobbies e participação em comunidades.
A palestrante e consultora Renata Rivetti, especialista em estudos sobre felicidade, destaca que esse momento é marcado pelo autoconhecimento:
“Quando a gente chega numa maturidade, a gente começa a encontrar o que de fato faz a gente feliz, começa a ter clareza do que a gente é, não quer mais impressionar tanto os outros e cria mais senso de pertencimento e de conexão.”
4. Menor preocupação com expectativas sociais
Na juventude e meia-idade, há uma forte pressão para alcançar determinados padrões de sucesso. Muitos percebem, por volta dos 50 anos, que não se tornarão milionários ou líderes de grandes empresas. Essa constatação pode gerar frustração, mas também abre espaço para redefinir prioridades.
Após essa fase, há uma aceitação maior da própria trajetória e uma visão mais realista sobre o futuro. Como resultado, a felicidade deixa de estar atrelada a conquistas externas e passa a ser influenciada por relações interpessoais e propósito de vida.
Os jovens estão mais infelizes?

Enquanto a felicidade dos idosos cresce, dados recentes indicam que os jovens estão cada vez mais insatisfeitos. O instituto Gallup, em seu relatório sobre felicidade de 2024, apontou que pessoas com menos de 30 anos enfrentam uma espécie de “crise de meia-idade precoce”.
Especialistas atribuem esse fenômeno a diferentes fatores, como a instabilidade econômica, a competição no mercado de trabalho e o impacto das redes sociais na autoestima. Segundo Renata Rivetti, a busca por prazeres imediatos também pode influenciar essa infelicidade:
“A juventude tem focado muito numa busca rápida de dopamina. Então, a gente quer alegria instantânea, a gente quer satisfazer os nossos prazeres”
Além disso, a epidemia da solidão tem afetado os mais jovens. Relatórios mostram que o tempo dedicado a interações sociais presenciais caiu significativamente nas últimas décadas. Essa falta de conexão pode impactar diretamente o bem-estar emocional.
O impacto das mudanças familiares na felicidade futura
Um dos principais fatores para a felicidade dos idosos hoje é o relacionamento com a família. No entanto, pesquisas indicam que os laços familiares estão se tornando mais frágeis devido a mudanças na estrutura da sociedade.
O Brasil tem registrado uma redução na taxa de natalidade, que passou de 2,32 filhos por mulher em 2000 para 1,57 em 2023. Além disso, o número de lares compostos por apenas uma pessoa também cresceu nos últimos anos.
Isso levanta uma questão importante: se a família é um dos pilares da felicidade na velhice, como será o bem-estar das futuras gerações, que terão menos familiares próximos?
Os especialistas apontam que novas formas de convivência podem surgir, como o fortalecimento das comunidades e das amizades. A criação de redes sociais presenciais pode ser fundamental para garantir uma velhice mais feliz no futuro.
Conclusão
A felicidade na terceira idade não acontece por acaso. Ela é resultado de um processo de transformação, no qual as pessoas passam a valorizar mais o que realmente importa. Relações interpessoais, propósito de vida e liberdade para viver de forma autêntica são fatores que fazem com que os idosos relatem maior satisfação.
Por outro lado, os desafios para as novas gerações indicam que é preciso repensar a forma como encaramos o bem-estar. Construir conexões sólidas e buscar uma vida equilibrada pode ser a chave para garantir felicidade não apenas na velhice, mas ao longo de toda a jornada.
Com informações de: BBC News Brasil





