O ano de 2024 marcou um recorde histórico nos pedidos de recuperação judicial no Brasil, de acordo com dados divulgados pela Serasa Experian. Com um total de 2.273 solicitações, o crescimento foi de impressionantes 61,8% em relação a 2023, quando foram registrados 1.405 pedidos.
Esse número é o maior desde o início da série histórica, em 2005, e evidencia as dificuldades enfrentadas por empresas de diferentes portes, especialmente as micro e pequenas. A seguir, confira os detalhes sobre o aumento desse índice, os setores mais afetados e as razões econômicas que levaram a esse cenário.
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Recuperação Judicial: Um Termômetro Econômico
A recuperação judicial é um mecanismo previsto em lei que permite que empresas reorganizem suas dívidas para evitar a falência. Esse processo é essencial para garantir a continuidade das atividades empresariais, preservando empregos e a economia como um todo. No entanto, o aumento expressivo no número de solicitações em 2024 reflete uma realidade desafiadora para o mercado brasileiro.
Segundo Camila Abdelmalack, economista da Serasa Experian, “o ambiente econômico estava aquecido em 2024, mas o Brasil enfrentou uma taxa de juros bastante restritiva”. Essa conjuntura foi determinante para que muitas empresas entrassem em inadimplência, recorrendo à recuperação judicial como alternativa.
Papel das Taxas de Juros Altas
Apesar de sinais de crescimento econômico, a política monetária restritiva do Brasil, com altas taxas de juros, tornou o crédito mais caro e limitou a capacidade de empresas em honrar seus compromissos financeiros. Esse fator foi decisivo para o aumento nos pedidos de recuperação judicial, especialmente entre micro e pequenas empresas.
Micro e Pequenas Empresas Lideram os Pedidos
Das 2.273 solicitações de recuperação judicial registradas em 2024, 1.676 foram feitas por micro e pequenas empresas. Esse segmento registrou o maior crescimento proporcional, com um aumento de 78,4% em relação aos 939 pedidos feitos em 2023.
Por que as Microempresas Foram as Mais Impactadas?
- Dificuldade de acesso ao crédito: Taxas de juros altas e exigências rigorosas para concessão de empréstimos tornaram o financiamento inviável para muitos pequenos negócios.
- Dependência de fluxo de caixa: Pequenas empresas geralmente têm menor capital de giro, tornando-as mais vulneráveis a oscilações econômicas.
- Impacto do setor de serviços: O setor de serviços, onde se concentra grande parte das microempresas, foi o mais afetado, liderando os pedidos de recuperação judicial com 928 solicitações.
Médias e Grandes Empresas Também Sofreram
Embora em menor escala, médias e grandes empresas também enfrentaram dificuldades. Foram 416 pedidos de recuperação judicial por empresas de médio porte e 181 por grandes empresas.
Setores Mais Afetados
Entre os setores econômicos, o de serviços foi o mais impactado, com 928 pedidos de recuperação judicial em 2024. Esse número representa 40,8% do total de solicitações, evidenciando a vulnerabilidade do segmento, especialmente diante de mudanças no consumo e no cenário financeiro.
Em seguida, destacam-se:
- Indústria: Registrou 347 pedidos, sendo o setor com o menor volume relativo.
- Comércio: Também apresentou aumento significativo, embora os dados específicos não tenham sido divulgados pela Serasa.
Serviços: Por Que Lideraram os Pedidos?
O setor de serviços, que inclui empresas de transporte, educação, saúde, turismo, entre outros, é fortemente dependente da renda disponível das famílias e de condições econômicas estáveis. Em um cenário de crédito caro e incertezas, a demanda por esses serviços tende a diminuir, afetando diretamente a saúde financeira das empresas.
Pedidos de Falência em Queda
Apesar do recorde nas recuperações judiciais, o número de pedidos de falência apresentou queda em 2024. Foram registrados 949 pedidos, uma redução de 3,5% em relação a 2023, que totalizou 983 requerimentos.
Mais uma vez, as micro e pequenas empresas lideraram as solicitações, com 578 pedidos de falência, seguidas pelas médias empresas (189) e grandes empresas (182).
O Que Explica a Redução nos Pedidos de Falência?
- Uso estratégico da recuperação judicial: Muitas empresas buscaram a recuperação judicial como alternativa para evitar o encerramento de suas atividades.
- Recuperação gradual de setores específicos: Algumas indústrias conseguiram se beneficiar de incentivos econômicos e recuperação da demanda interna.
Perspectivas para 2025
A tendência para 2025 dependerá de fatores como:
- Redução das taxas de juros: Caso o Banco Central opte por uma política monetária mais flexível, empresas poderão acessar crédito com maior facilidade.
- Estímulos econômicos: Programas de incentivo à micro e pequena empresa podem mitigar os impactos de um cenário adverso.
- Adaptação empresarial: Negócios que investirem em inovação e diversificação terão mais chances de superar adversidades.
Especialistas destacam que, embora a recuperação judicial seja um recurso válido, é fundamental que empresas busquem apoio financeiro e jurídico preventivo para evitar situações extremas.
Conclusão
O recorde de pedidos de recuperação judicial em 2024 é um alerta para a complexidade do ambiente econômico brasileiro. Com micro e pequenas empresas liderando os números, fica evidente a necessidade de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade financeira desses negócios, que são pilares da economia.
Enquanto isso, a redução nos pedidos de falência demonstra que a recuperação judicial tem sido uma ferramenta eficaz para preservar empresas e empregos. Ainda assim, 2025 será um ano decisivo para a recuperação econômica, com desafios e oportunidades para empresários de todos os portes. Se você é empreendedor e enfrenta dificuldades, busque orientação especializada para reorganizar suas finanças e evitar falência.
Imagem: Alison Nunes Calazans / Shutterstock.com