O governo brasileiro está em intensa negociação com os países membros do G20 para incluir trechos sobre os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, com especial atenção à crise em Gaza, na declaração final da cúpula do G20, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de novembro de 2024 no Rio de Janeiro. Essa iniciativa faz parte de um esforço diplomático para reforçar o compromisso com a paz e a busca por soluções pacíficas, refletindo a postura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Leia mais:]
EUA discorda de fala de Lula sobre Gaza e Holocausto
Um momento decisivo para a diplomacia brasileira
A presença do Brasil como anfitrião da próxima cúpula do G20 coloca o país no centro das atenções globais e oferece uma oportunidade única para que sua diplomacia influencie temas críticos de segurança e estabilidade internacional. A proposta de incluir menções específicas aos conflitos na Ucrânia e em Gaza visa promover uma mensagem de conciliação e reforçar o papel do Brasil como mediador global.
Segundo o Itamaraty, as negociações para chegar a um consenso entre os países membros do bloco ainda estão em andamento e devem prosseguir até os últimos momentos antes do evento. Essa postura do Brasil encontra respaldo no histórico do país em defender o diálogo e a não interferência nas questões internas de outras nações.
Os desafios diplomáticos de incluir Ucrânia e Gaza na declaração
Para que essa iniciativa avance, o Brasil precisará superar uma série de desafios diplomáticos. Países do G20 possuem posições divergentes sobre os conflitos em questão. O governo brasileiro terá que encontrar uma linguagem que não apenas mencione os conflitos, mas que também seja aceita por todos os membros, respeitando as sensibilidades políticas de cada nação.
Divergências entre países do G20
- Estados Unidos e União Europeia: Os EUA e a maioria dos países da União Europeia têm uma posição de apoio direto à Ucrânia no conflito com a Rússia, e são favoráveis a sanções contra Moscou. Na questão de Gaza, o apoio à segurança de Israel e a condenação de atos terroristas são pontos fortes da diplomacia ocidental.
- Rússia e aliados: A Rússia é membro do G20 e possui uma posição contrária a qualquer crítica aberta à sua atuação na Ucrânia. O país provavelmente rejeitará qualquer linguagem que seja vista como uma condenação de suas ações.
- Países do Oriente Médio: Diversos países árabes possuem posicionamentos fortes quanto à questão palestina e podem pressionar por uma declaração que destaque a necessidade de proteger a população civil em Gaza.
Essas diferenças significam que o Brasil precisará adotar uma linguagem diplomática cuidadosa e que reforce a neutralidade da declaração, centrada na importância de soluções pacíficas e no respeito aos direitos humanos.
A posição do Brasil e a busca por uma resolução pacífica
Historicamente, o Brasil tem adotado uma postura de neutralidade e de apoio ao diálogo em conflitos internacionais, posição que é reforçada pelo presidente Lula, que já declarou a importância de resolver disputas por meio da diplomacia. Recentemente, Lula se encontrou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Nova York e reiterou sua disposição para auxiliar em negociações de paz.
Além disso, o presidente brasileiro também expressou preocupação com a situação no Oriente Médio, enfatizando a necessidade de proteger os civis e assegurar a paz para todas as partes envolvidas. Essa abordagem é vista por especialistas como uma tentativa de fortalecer a imagem do Brasil como um mediador confiável, alinhado com as normas internacionais de paz e direitos humanos.
Declaração do Itamaraty sobre a inclusão dos conflitos
De acordo com um comunicado do Itamaraty, o Brasil entende que a inclusão dos conflitos na Ucrânia e em Gaza na declaração do G20 é essencial para a relevância do evento. “Estamos em diálogo com todos os parceiros, buscando construir um consenso que destaque a importância de uma resolução pacífica e o respeito aos direitos humanos”, afirma o ministério.
Apoio de países emergentes
O Brasil também conta com o apoio de países emergentes que fazem parte do BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Esses países tendem a adotar uma abordagem mais neutra em relação aos conflitos internacionais, principalmente em questões que envolvem potências ocidentais e seus interesses estratégicos. Esse suporte pode ser crucial para que o Brasil mantenha o tom neutro da declaração e evite polarizações dentro do G20.
Benefícios de uma declaração com apelo à paz
Uma declaração com menções aos conflitos globais teria um grande impacto para o Brasil e para a imagem do G20. Entre os potenciais benefícios, destacam-se:
Fortalecimento do papel do Brasil como mediador global
Caso o Brasil consiga mediar uma declaração que inclua referências pacíficas aos conflitos, isso reforçará a posição do país como um influente agente de paz e diálogo na esfera internacional. Esse posicionamento está alinhado com a tradição diplomática brasileira de respeito à soberania e busca pela resolução pacífica de conflitos.
Relevância do G20 em temas globais de segurança
O G20 é, tradicionalmente, um fórum voltado para discussões econômicas. No entanto, a inclusão de questões de segurança e conflitos globais poderia ampliar o escopo de atuação do bloco e torná-lo um espaço relevante para abordagens mais abrangentes sobre desafios internacionais.
Contribuição para a paz e estabilidade global
Uma declaração focada em promover o diálogo e a resolução pacífica dos conflitos pode ser uma mensagem poderosa de unidade global em um momento em que tensões estão elevadas em várias regiões do mundo. O esforço do Brasil para incluir essas menções pode representar uma contribuição significativa para a diplomacia multilateral e para a promoção da paz.
A possível reação internacional à declaração
A inclusão dos conflitos na Ucrânia e em Gaza certamente gerará diferentes reações entre os membros do G20 e também no cenário internacional. Países com posições bem definidas sobre esses temas podem ver a iniciativa do Brasil com desconfiança, enquanto outras nações podem apoiar a postura brasileira em prol de uma abordagem equilibrada e voltada para a paz.
Estados Unidos e União Europeia
É provável que os EUA e a União Europeia avaliem de perto a linguagem usada na declaração. Se o documento não condenar diretamente ações específicas de certos países, pode haver uma resistência dessas nações ao texto final. Ainda assim, esses países têm o Brasil como um aliado estratégico e podem preferir aceitar uma linguagem mais neutra do que provocar divisões dentro do G20.
Rússia e China
Tanto a Rússia quanto a China podem ver na posição do Brasil uma oportunidade de evitar uma abordagem que favoreça unilateralmente o Ocidente. A Rússia, por exemplo, tende a rejeitar menções específicas sobre o conflito ucraniano, mas pode aceitar uma referência genérica ao diálogo pela paz.
Países Árabes e organizações regionais
Na questão de Gaza, países árabes e organizações regionais como a Liga Árabe provavelmente apoiarão qualquer linguagem que destaque a proteção dos civis e a necessidade de uma solução pacífica para o conflito. Esses países podem ver a iniciativa do Brasil como um gesto positivo em prol da segurança e estabilidade na região.
O impacto da declaração no cenário doméstico
A postura do Brasil em defender uma abordagem diplomática e inclusiva pode fortalecer o governo Lula internamente, já que muitos brasileiros apoiam o papel pacificador do país no cenário global. Além disso, o sucesso do Brasil em liderar essa iniciativa no G20 pode gerar repercussão positiva para o país, melhorando sua imagem como líder comprometido com o diálogo e os direitos humanos.
Considerações finais
A negociação liderada pelo Brasil para incluir menções aos conflitos na Ucrânia e em Gaza na declaração final do G20 representa uma iniciativa diplomática significativa e ambiciosa. Ao defender uma postura voltada para o diálogo e a paz, o Brasil reforça seu papel como mediador global e contribui para o fortalecimento do G20 como um fórum que pode discutir questões além da economia.
Se a declaração final do G20 no Rio incluir uma mensagem de paz e conciliação, o Brasil poderá consolidar sua imagem como uma voz influente pela paz, em um momento de incertezas e instabilidade global. A cúpula do G20 se mostra, assim, uma oportunidade crucial para a diplomacia brasileira e para o avanço das negociações pela paz mundial.