Nos últimos anos, o sistema de concessão de auxílios por incapacidade temporária, popularmente conhecido como antigo auxílio-doença, tem sido alvo de discussões acaloradas. Um estudo recente da Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais (ANMP) revelou que cerca de 90% dos pedidos de auxílio que requerem perícia presencial após seis meses são rejeitados. Essa realidade levanta questões importantes sobre o funcionamento do sistema Atestmed, onde a análise de atestados e laudos médicos ocorre.
O que é o Atestmed?
Definição e objetivo
O Atestmed é um sistema criado para centralizar a coleta de informações provenientes de segurados, médicos e, mais recentemente, de funcionários dos Correios. O objetivo é facilitar a análise documental e determinar a elegibilidade dos benefícios por incapacidade. A ideia é agilizar o processo, permitindo que um número maior de pedidos seja analisado sem a necessidade de uma perícia presencial imediata.
Funcionamento do sistema
Inicialmente, o Atestmed divide os pedidos de auxílio em duas categorias: aqueles que podem ser concedidos sem perícia e aqueles que requerem avaliação presencial. Estatísticas indicam que, até seis meses, cerca de 50% dos pedidos são aprovados automaticamente, enquanto os outros 50% são encaminhados para uma avaliação mais detalhada.
A rejeição dos pedidos
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Razões para a rejeição
A alta taxa de rejeição dos pedidos após a perícia presencial pode ser atribuída a diversos fatores. Muitos atestados médicos, mesmo que válidos, não atendem aos critérios estabelecidos para a concessão do benefício. Por exemplo, condições que não impedem a pessoa de trabalhar, como dermatite seborreica ou unhas encravadas, podem resultar em uma concessão indevida.
O papel dos peritos
De acordo com Francisco Cardoso, vice-presidente da ANMP, o sistema Atestmed tem sido visto como um canal que facilita a concessão em larga escala. Isso, no entanto, gera um dilema: enquanto busca-se aumentar a eficiência do sistema, também se corre o risco de permitir fraudes. A escassez de peritos médicos e a pressão por resultados têm contribuído para esse cenário.
O impacto das mudanças recentes
Novas regras de concessão
Em agosto deste ano, o governo implementou medidas mais rigorosas para a concessão de auxílios por incapacidade. As prorrogações de benefícios passaram a ser limitadas a 60 dias, uma tentativa de reduzir o número de concessões inadequadas. No entanto, as brechas ainda persistem, levando a um debate sobre a efetividade dessas medidas.
Autonomia dos médicos
Outra questão relevante é a diminuição da autonomia dos médicos na hora de negar um pedido de auxílio. Atualmente, os médicos podem recusar apenas em casos muito específicos, como ausência de atestado ou erros grosseiros. Essa limitação pode levar a situações em que benefícios são concedidos mesmo quando não deveriam.
Desafios e possíveis soluções
Fraudes e seus efeitos
O INSS está ciente das fraudes que ocorrem dentro do sistema. As despesas previdenciárias aumentam a pressão sobre os gastos públicos, levando a Coordenação-Geral de Monitoramento Operacional de Benefícios a atuar na identificação de irregularidades. No entanto, ainda há muito a ser feito para encontrar um equilíbrio entre a concessão e a negação de benefícios.
Propostas para melhoria
Para melhorar o sistema, algumas medidas poderiam ser implementadas:
- Revisão dos Critérios de Concessão: Estabelecer diretrizes mais claras e rígidas para a aceitação de atestados médicos.
- Aumento da Capacitação dos Peritos: Investir na formação contínua dos peritos para que possam realizar avaliações mais precisas.
- Transparência nas Estatísticas: Disponibilizar dados sobre a concessão de auxílios e o desempenho do sistema, permitindo um maior controle social.

Considerações finais
O sistema Atestmed e a concessão de auxílios por incapacidade temporária são questões complexas que envolvem não apenas a análise de documentos médicos, mas também a gestão eficiente dos recursos públicos. Embora haja avanços, os desafios persistem.
É fundamental que a sociedade continue a debater e buscar soluções que garantam justiça na concessão dos benefícios, ao mesmo tempo que protejam o sistema de fraudes e abusos. A transparência e a capacitação dos envolvidos serão cruciais para que o Atestmed cumpra seu papel de forma eficaz e justa.