Ao amanhecer, enquanto a maioria das pessoas se prepara para mais um dia rotineiro, Sandra Oliveira já está a postos, cuidando atenciosamente de sua mãe, Severina Maria. Desde que a mãe sofreu uma amputação devido à diabetes, Sandra, uma educocomunicadora de 48 anos, dedica-se incansavelmente aos cuidados dela, dia após dia.
Em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, essa rotina é mais comum do que se imagina. A vida de Sandra se entrelaça com a de muitas outras mulheres brasileiras que assumem a responsabilidade de cuidar de familiares idosos, uma função que vai além do amor e se estende às exigências físicas e emocionais intensas.
Quem são os cuidadores de idosos no Brasil?
Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de cuidadores de idosos cresceu significativamente nos últimos anos. Em 2019, já eram mais de 5,1 milhões de brasileiros dedicados a cuidar de pessoas acima de 60 anos, a maioria mulheres. A dedicação intensa a essa tarefa não vem sem consequências.
Sandra compartilha que a rotina de cuidados de sua mãe a levou até mesmo a buscar apoio psicológico. “É muito exaustivo e estressante”, relata ela, ressaltando o pouco tempo disponível para cuidar de si mesma. Este cenário é um reflexo do papel desproporcionalmente grande que mulheres, especialmente, têm em cuidados domésticos e assistenciais no Brasil.
O envelhecimento da população brasileira indica que, nos próximos anos, a demanda por cuidadores só tende a aumentar. Estima-se que até 2030, o número de idosos superará o de crianças e adolescentes. Esse crescimento desafia o país a repensar e fortalecer as políticas de apoio aos cuidadores familiares, o que inclui a distribuição de responsabilidades entre o Estado e a sociedade.
Apoio necessário para cuidadores
Uma das iniciativas recentes neste sentido foi a criação da Política Nacional de Cuidados, em 2023, focada em promover uma divisão mais equitativa do trabalho de cuidados, reconhecendo, principalmente, a carga desproporcional assumida pelas mulheres neste papel. Acrescente-se a isso, a importância do autocuidado dos cuidadores, um tema cada vez mais debatido entre profissionais da saúde mental.
Tâmara Calheira, psicóloga e coordenadora de um grupo de apoio a mulheres em São Paulo, destaca os desafios enfrentados por quem cuida. “A rotina de cuidar de idosos adoece muitas cuidadoras. Sem remuneração, essas mulheres acabam desenvolvendo doenças físicas e mentais”, explica. Ela enfatiza a importância de oferecer recursos que permitam a essas mulheres encontrar apoio e um respiro na rotina de cuidados intensos.
Assim como Sandra, muitas outras cuidadoras continuam em suas jornadas diárias, marcadas por desafios e recompensas. A sociedade e o governo precisam atuar conjuntamente para oferecer a elas não só reconhecimento, mas suporte real e efetivo.
Imagem: Andrea Piacquadio / pexels.com