Saúde mental na terceira idade: O álcool como um perigo oculto
O aumento no consumo de álcool entre os idosos é um fenômeno complexo com diversas causas interligadas, tanto biológicas quanto socioculturais.
À medida que a população mundial envelhece, a saúde mental na terceira idade torna-se uma preocupação cada vez mais premente. Embora muitas vezes negligenciada, a saúde mental dos idosos desempenha um papel crucial em sua qualidade de vida e bem-estar geral. Um aspecto frequentemente subestimado desse cenário é o uso de álcool entre os idosos, que pode se tornar um perigo oculto, afetando não apenas sua saúde física, mas também sua saúde mental. Neste contexto, é fundamental explorar como o consumo de álcool na terceira idade pode influenciar negativamente a saúde mental e quais medidas podem ser tomadas para mitigar esses efeitos.
Enquanto a atenção à saúde mental continua a crescer, há uma tendência preocupante de subestimar os riscos associados ao consumo de álcool entre os idosos. Muitos idosos recorrem ao álcool como uma forma de lidar com desafios como solidão, depressão e ansiedade, sem perceber os efeitos adversos que pode ter em sua saúde mental. É crucial reconhecer que o álcool pode exacerbar os sintomas de problemas de saúde mental já existentes ou desencadear novos distúrbios, tornando-se um perigo silencioso que merece atenção urgente.
Enquanto as preocupações com a saúde mental na terceira idade continuam a ganhar destaque, é essencial adotar uma abordagem holística que inclua a conscientização sobre os riscos do consumo de álcool nessa faixa etária. Os idosos enfrentam uma série de desafios únicos que podem contribuir para o uso indevido de álcool, desde questões de saúde física até mudanças na vida social e emocional. Portanto, uma compreensão aprofundada dos vínculos entre o álcool e a saúde mental na terceira idade é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção, garantindo assim o bem-estar integral dos idosos em nossa sociedade.
Fatores biológicos:
- Mudanças fisiológicas: Com o envelhecimento, o corpo passa por alterações que influenciam o metabolismo do álcool. O fígado, responsável por metabolizá-lo, fica menos eficiente, o que leva a um aumento da concentração de álcool no sangue mesmo com pequenas quantidades ingeridas.
- Doenças crônicas: Doenças comuns na terceira idade, como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, podem ser agravadas pelo consumo de álcool, levando a complicações sérias de saúde.
- Medicação: Alguns medicamentos utilizados por idosos podem interagir com o álcool, potencializando seus efeitos e aumentando o risco de efeitos colaterais.
Fatores socioculturais:
- Isolamento social: A perda de cônjuge, amigos e familiares, além da aposentadoria, podem levar ao isolamento social, o que pode ser um fator de risco para o aumento do consumo de álcool como forma de lidar com a solidão e o tédio.
- Mudanças na vida: A aposentadoria pode trazer mudanças significativas na rotina e na identidade do indivíduo, o que pode gerar estresse e ansiedade, levando alguns idosos a buscarem no álcool uma forma de aliviar esses sentimentos.
- Acesso facilitado: A aposentadoria pode aumentar a disponibilidade de tempo e renda, o que facilita o acesso ao álcool.
- Marketing direcionado: A indústria de bebidas alcoólicas muitas vezes direciona suas campanhas de marketing para o público idoso, associando o consumo de álcool a imagens de felicidade, saúde e bem-estar.
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Idosos e as consequências do consumo excessivo de álcool
- Problemas de saúde: O consumo excessivo de álcool pode agravar doenças crônicas, aumentar o risco de quedas e fraturas, prejudicar a função cognitiva, levar à depressão e ansiedade, e contribuir para o desenvolvimento de demência.
- Acidentes: O álcool diminui a coordenação motora e o tempo de reação, aumentando o risco de acidentes de trânsito, quedas domésticas e outros tipos de lesões.
- Problemas sociais: O consumo excessivo de álcool pode prejudicar os relacionamentos familiares e sociais, levar à negligência de responsabilidades e até mesmo à violência doméstica.
O que pode ser feito:
- Campanhas de conscientização: É importante conscientizar os idosos, seus familiares e profissionais de saúde sobre os riscos do consumo excessivo de álcool e sobre os benefícios de uma vida saudável.
- Treinamento de profissionais: Profissionais de saúde devem ser treinados para identificar e abordar o consumo de álcool em idosos, oferecendo apoio e orientação para reduzir o consumo ou para lidar com a dependência.
- Programas de tratamento: Existem diversos programas de tratamento disponíveis para idosos que apresentam problemas com o consumo de álcool, incluindo terapia individual e em grupo, grupos de apoio e medicação.
- Apoio social: É importante que os idosos tenham acesso a redes de apoio social, como grupos de amigos, familiares e atividades comunitárias, que podem ajudá-los a lidar com os desafios da vida e a evitar o consumo excessivo de álcool.
Lembre-se:
- O consumo moderado de álcool pode fazer parte de um estilo de vida saudável para alguns idosos.
- No entanto, é importante estar atento aos riscos do consumo excessivo e buscar ajuda caso você ou alguém que você conhece esteja enfrentando problemas com o álcool.
Envelhecimento pode diminuir a tolerância do corpo ao álcool
O uso de substâncias psicoativas entre os idosos está despertando preocupações crescentes entre os profissionais de saúde, e descobertas recentes destacam a necessidade de atenção por parte do poder público. Segundo o relatório “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2019”, houve um aumento significativo, entre 2010 e 2016, tanto no número de internações (6,9%) quanto no de óbitos (6,7%) parcial ou totalmente atribuíveis ao álcool na população com 55 anos ou mais.
O consumo de álcool nessa faixa etária pode desencadear efeitos mais intensos em comparação com os jovens de peso e sexo semelhantes. Isso se deve, em parte, ao envelhecimento, que geralmente reduz a tolerância do organismo ao álcool devido a várias alterações fisiológicas, incluindo mudanças na capacidade de metabolização hepática e função renal, além de alterações na composição corporal, que aumentam a propensão à desidratação.
Considerando essa maior sensibilidade, recomenda-se que pessoas com mais de 65 anos, se optarem por beber, limitem-se a três doses de álcool em um único dia, sem exceder sete doses por semana. É importante ressaltar que uma dose de álcool equivale à ingestão de 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado (vodca, uísque, cachaça, gin ou rum). Além disso, é fundamental destacar que pessoas com problemas de saúde que possam ser agravados pelo álcool devem abster-se de consumi-lo. O abuso de álcool nessa fase da vida pode acarretar consequências preocupantes, incluindo déficits no funcionamento cognitivo e intelectual, prejuízos no comportamento global e aumento do risco de doenças e agravos à saúde comuns na terceira idade. Ademais, os idosos ficam mais expostos ao risco de quedas e lesões, além de poderem sofrer outros impactos devido à interação do álcool com medicamentos frequentemente utilizados nessa fase da vida.
Imagem: GR21