Como a polifarmácia pode ser fatal para os idosos?
Lembra daqueles armários cheios de remédios que os avós costumavam ter? A polifarmácia, o uso excessivo de medicamentos, se tornou um problema cada vez mais comum entre os idosos, elevando consideravelmente os riscos de interações negativas entre as substâncias e colocando em risco a saúde dos mais experientes.
Um cenário preocupante:
- 6 em cada 10 idosos consomem mais de cinco medicamentos por dia.
- 46,2% dos idosos que utilizam o sistema público de saúde de Ribeirão Preto (SP) já tiveram reações adversas causadas por interações medicamentosas ou uso inapropriado de medicamentos.
- O Brasil possui apenas um geriatra para cada 9 mil idosos, número insuficiente para atender à demanda da população em envelhecimento.
As consequências da polifarmácia: Uma análise detalhada
A polifarmácia, caracterizada pelo uso simultâneo de múltiplos medicamentos, é uma prática comum entre idosos e pacientes com doenças crônicas. No entanto, essa prática, embora necessária em alguns casos, pode trazer consigo diversas consequências negativas que impactam diretamente a saúde e o bem-estar do indivíduo.
1. Aumento do risco de internações e mortalidade:
Um dos principais riscos da polifarmácia é o aumento da probabilidade de internações hospitalares e até mesmo da mortalidade. A ingestão de diversos medicamentos, muitas vezes com diferentes mecanismos de ação e efeitos colaterais, pode levar a interações medicamentosas, sobrecargas no organismo e até mesmo à toxicidade.
Estudos demonstram que pacientes que utilizam cinco ou mais medicamentos têm um risco 80% maior de serem internados em comparação com aqueles que tomam menos de três medicamentos. Além disso, a polifarmácia está associada a um aumento de 30% no risco de mortalidade.
2. Efeitos colaterais graves:
A utilização de múltiplos medicamentos aumenta significativamente o risco de efeitos colaterais graves. Cada medicamento possui seus próprios efeitos colaterais, e a combinação de diversos medicamentos pode potencializar esses efeitos, levando a sintomas como náuseas, tonturas, quedas, confusão mental, problemas gastrointestinais e até mesmo reações alérgicas graves.
Em alguns casos, os efeitos colaterais podem ser tão graves que exigem a suspensão do tratamento ou a internação hospitalar. Além disso, a polifarmácia pode dificultar a identificação do medicamento responsável por um determinado efeito colateral, atrasando o diagnóstico e tratamento adequado.
3. Dificuldade de diagnóstico de doenças:
A polifarmácia pode dificultar o diagnóstico preciso de doenças, pois os sintomas de algumas condições podem ser mascarados pelos efeitos colaterais dos medicamentos. Isso pode levar a atrasos no diagnóstico e tratamento de doenças graves, com consequências negativas para a saúde do paciente.
Por exemplo, um paciente que toma medicamentos para controlar a pressão arterial pode apresentar sintomas de fadiga e tontura, que também podem ser sinais de uma doença cardíaca. Na presença de polifarmácia, o médico pode ter dificuldade em determinar a causa real dos sintomas, atrasando o diagnóstico e tratamento da doença cardíaca.
4. Diminuição da qualidade de vida:
A polifarmácia pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do indivíduo. Os efeitos colaterais dos medicamentos, a dificuldade de diagnóstico de doenças e a necessidade de tomar diversos medicamentos diariamente podem levar a sentimentos de frustração, ansiedade e depressão.
Além disso, a polifarmácia pode comprometer a autonomia do paciente, que pode ter dificuldade em lembrar de tomar todos os medicamentos no horário correto e na dosagem adequada. Isso pode levar a uma sensação de perda de controle e dependência de outras pessoas para auxiliar na medicação.
A polifarmácia, embora necessária em alguns casos, deve ser sempre utilizada com cautela e acompanhamento médico rigoroso. É fundamental que o médico avalie cuidadosamente a necessidade de cada medicamento e busque alternativas que minimizem os riscos de interações medicamentosas e efeitos colaterais.
O que pode ser feito?
- Sistema de saúde mais integrado: prontuário único e digitalizado para cada paciente, facilitando o acesso ao histórico médico e evitando a prescrição de medicamentos desnecessários.
- Desprescrição: reavaliação e suspensão de medicamentos que não trazem benefícios ou que podem causar malefícios.
- Orientação profissional: acompanhamento por geriatra ou outro profissional especializado em saúde do idoso para a prescrição adequada de medicamentos e acompanhamento do paciente.
- Conscientização: campanhas informativas sobre os riscos da polifarmácia e a importância do uso racional de medicamentos.
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É hora de agir!
O envelhecimento da população é uma realidade, e é fundamental que os sistemas de saúde estejam preparados para lidar com os desafios específicos da terceira idade. Reduzir a polifarmácia é uma parte crucial desse processo, e exige um esforço conjunto de pacientes, profissionais de saúde e do sistema de saúde como um todo.
Cuide da saúde dos seus avós e de todos os idosos! Combata a polifarmácia e promova um envelhecimento mais saudável e seguro.
Lembre-se:
- Consulte um médico regularmente, especialmente se você toma vários medicamentos.
- Informe ao seu médico sobre todos os medicamentos que você toma, incluindo medicamentos de venda livre e suplementos alimentares.
- Não tome medicamentos sem orientação médica.
- Questione seu médico sobre a necessidade de cada medicamento que você toma.
- Procure um geriatra se você está preocupado com a sua saúde ou com a saúde de um idoso que você conhece.
Imagem: OTEC Innovares