Impacto da percepção da vizinhança na qualidade do sono dos idosos
A qualidade do sono é crucial para a saúde e o bem-estar, especialmente em idades avançadas. Uma pesquisa recente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou que a percepção que os idosos têm de sua vizinhança pode influenciar significativamente a qualidade de seu sono. O estudo, publicado na revista “Cadernos de Saúde Pública”, examinou as associações entre como os idosos veem seu entorno e diversos problemas de sono.
Os resultados da pesquisa indicaram que a percepção positiva da vizinhança, caracterizada por aspectos como segurança, tranquilidade e boas relações interpessoais, estava fortemente associada a uma melhor qualidade do sono entre os idosos. Por outro lado, aqueles que percebiam sua vizinhança de forma negativa, com preocupações relacionadas à segurança, barulho excessivo ou falta de apoio social, tinham maior probabilidade de enfrentar problemas de sono, como insônia ou dificuldade para dormir profundamente.
Esses achados ressaltam a importância do ambiente físico e social na saúde dos idosos, particularmente no que diz respeito ao sono, um aspecto fundamental para o seu bem-estar geral. Portanto, intervenções que visam melhorar a qualidade de vida dos idosos devem considerar não apenas aspectos individuais, mas também o contexto em que vivem, buscando criar ambientes que promovam o sono tranquilo e restaurador.
O estudo e seus achados
Realizado entre 2019 e 2021, o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros coletou dados de 5.719 pessoas com 60 anos ou mais, residentes em áreas urbanas. As informações coletadas ajudaram a explorar as conexões entre a percepção da vizinhança e problemas de sono como insônia, sonolência diurna, dificuldade em manter o sono e despertar durante a noite.
Os resultados mostraram que idosos que desejavam mudar de onde moravam e que relatavam problemas como lixo e grama alta nas ruas tinham mais probabilidade de relatar má qualidade do sono. Em contrapartida, aqueles que viam sua vizinhança como um bom lugar para viver relataram menos problemas de sono.
Leia mais: Plano inovador: Prédios vazios se tornarão hotéis com serviços de saúde para idosos
Percepções negativas e seu impacto
Idosos preocupados com calçadas em más condições e dificuldades de mobilidade na comunidade relataram mais frequentemente insônia, sonolência diurna e outros distúrbios do sono. Essas percepções negativas parecem estar diretamente ligadas ao aumento do estresse e à redução da atividade física, fatores conhecidos por prejudicar a qualidade do sono.
Por outro lado, o estudo também destacou que percepções positivas sobre a vizinhança e o sono dos idosos servem como um fator de proteção contra problemas de sono. A confiança nos vizinhos e a percepção de respeito por parte de crianças e jovens na comunidade foram associadas a uma redução significativa na probabilidade de sonolência diurna e despertares noturnos frequentes.
Segundo Núbia Carelli, coordenadora do estudo, compreender os fatores ambientais e sociais que afetam o sono é crucial, especialmente porque problemas de sono estão ligados a várias condições médicas, incluindo doenças cardiovasculares e distúrbios mentais como ansiedade e depressão. “Este estudo sublinha a importância de políticas de planejamento urbano que considerem as necessidades dos idosos, promovendo ambientes que suportem uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, melhor saúde do sono,” afirma Carelli.
A pesquisa enfatiza a necessidade de mais estudos que explorem como o ambiente físico e social pode influenciar a saúde dos idosos. Além disso, os resultados podem servir de base para a criação de políticas públicas mais eficazes em planejamento urbano, assegurando que as áreas residenciais sejam mais acolhedoras e menos propensas a causar distúrbios no sono dos idosos.
Imagem: Estado de Minas